quinta-feira, 1 de novembro de 2012

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Nasceu dia 20 de dezembro de 1989, contrariando o que todos os médicos diziam. Queria ser diferente e conseguiu. A pirraça nasceu com ela. A primeira lembrança que tem de vida é de seu aniversário de dois anos, quando seu pai chamara-a para ir com ele e ela saiu correndo. Seria esse um sinal de que ele era uma má pessoa? Acho que isso será um mistério. 

Ela sempre foi uma criança muito chata, adorava fazer coisas repetidas vezes e, dentre elas, ouvir música, em especial a música Me Dá Danoninho. Ela amava e fazia todos ouvirem com ela. Mas ela tinha bom coração. Ela também amava ir à Playlandia. Seu brinquedo favorito era ao fliperama dos Simpsons. Apesar de mal conseguir jogar, adorava-o mesmo assim. Com o Master System, ela passou a deixar parte de sua vida para aprimorar-se cada vez mais. Foi ai que nasceu uma grande paixão. Master System era seu refúgio do mundo, que cada vez mais ela criticava e discordava. Sonic 2 fazia-a sentir-se uma heroína, pois ela salvava o Tails e emocionava-se toda vez que os dois corriam juntos nos créditos finais e viam seus rostos nas estrelas.

Me dá Danoninho já!

(:

Ela sempre gostou de rir, tanto que um de seus programas favoritos era Topa Tudo Por Dinheiro do Silvio Santos. Também adorava desenhos de todos os tipos. Nunca desgrudava do Pity, seu fiel companheiro e amigo. Um cachorrinho de pelúcia branco e cinza com orelhas negras. Ganhou no seu aniversário de dois anos e desde então passou a considerá-lo seu melhor amigo. Todas as risadas, lágrimas, alegrias, tristezas o fiel Pity estava sempre ao seu lado. Se ele pudesse contar todas as lágrimas e lamentações que ela fez a ele, ele passaria um longo tempo contando.

PITY ♥

Sua primeira experiência real numa sala de aula foi aos cinco anos no antigo Pré II. E desde então, começou a sofrer pequenos insultos e preconceito. Ela gostava de brinquedos e desenhos considerados de meninos, como carrinhos e figuras de ação. Era inadmissível uma menina ter boneco dos Power Rangers e as provocações começaram por isso. Mas ela não levava desaforo para casa. Brigava com esses colegas, não fisicamente, mas verbalmente.

Quem quer dinheiro? Eeeeeu
Melhor pegadinha já criada


Ela entrou tarde na escolinha porque já sabia ler aos três anos de idade, graças aos gibis da Turma da Mônica. Ela cresceu idolatrando e apaixonando-se cada vez mais pelas histórias, tanto que o lugar que ela chamava de segunda casa era o Parque da Mônica. Lá ela se sentia livre. Podia brincar o dia todo. Quando a turma estava andando pelo parque, ela segurava a mão do Cebolinha até a porta para que a Mônica não batesse nele, em outras palavras, ela protegia o Cebolinha. Ela devia ser bem corajosa, pois na época, acreditava que os personagens eram reais e ela enfrentava a Mônica.


Mas o inferno começou na primeira série, quando entrou no colégio católico Instituto São Pio X. Insultos e provocações por ela ser muito branca e também por ter uma lancheira considerada de menino por ser azul. O que ela poderia fazer se adorava todas as cores? Com o passar dos anos, a situação foi apenas piorando. Poucas pessoas andavam com ela. Ela apanhava tanto no transporte escolar quanto na escola. Mesmo assim, ela tentava ser aceita por essas pessoas. Quando passou a estudar de manhã, em 2000, tinha apenas 10 anos e já estava na quinta série. Por esse motivo, levou uma surra de um menino que era três anos mais velho que ela e estava na mesma sala. Ela não se sentia superior, ela apenas ficava quieta no canto e evitava conversar com os demais. Cada ano que se passava, ela buscava mais ficar longe das pessoas, mas ela queria se sentir aceita. Sempre escondeu isso da família, não queria se passar por fraca. Era orgulhosa demais para deixar que percebessem, mas ela queria ajuda, ela queria abraços, ela queria que dissessem que tudo ficaria bem. Ela nunca ouviu isso, então aprendeu a lutar sozinha, por mais que isso machucasse. Ela acabou se escondendo no mundo do futebol e dos desenhos/animes. Como ela se sentia segura com ambos, passou a dedicar mais tempo com isso do que com pessoas.
Volte à forma humilde que merece, carta Clow!

Ela sempre dizia que odiava pessoas, mas na verdade, ela gostava demais, mas as pessoas apenas a machucavam.

Quando estava no terceiro ano, decidiu em poucos dias que iria fazer Relações Internacionais. Ela não estava preocupada com o curso em si, ela apenas achava que com ele poderia ir à Alemanha mais rápido. Isso custou quatro anos e meio de sua vida. Ela não gostava do curso em si, apenas de algumas matérias, mas não conseguia se ver trabalhando com elas. Ao invés de ter decidido fazer algo que queria, com que tinha afinidade par, escolheu o que pensava ser o caminho mais fácil. Suas atitudes, pensamentos e comportamento não condiziam com uma ‘internacionalista’, então precisou esconder no fundo de si o que ela verdadeiramente gostava. Dia após dia, aquele curso machucava-a mais ainda. Não por causa dos professores ou das aulas, mas porque ela tentava ser quem não era.


No meio do curso, ela foi à Alemanha, mais precisamente em janeiro de 2009. Esse mês praticamente sozinha num país longe e diferente a fez crescer muito e decidir o que queria para a vida. Queria trabalhar com futebol, com o campeonato que ela amava, que a fazia acordar cedo aos sábados e domingos, a sua Bundesliga. Mas não podia chegar ao Brasil e dizer que iria abandonar relações internacionais e começar jornalismo. Com todo o esforço, ela terminou relações internacionais em 2011 e, um mês depois, estava matriculada em jornalismo.
"É o jogo de estreia do Felix Kroos no profissional."


O problema é que era na mesma faculdade, o mesmo ambiente. Mas ela sentia-se mais livre para sem quem ela era. Voltou a fazer o que gostava, agir como era, ser ela mesma. Mas se mesmo em RI havia preconceito e discriminação para com ela, não seria diferente em jornalismo. Julgavam-na ser metida, exibicionista, falsa, salto alto, etc, porque estava na segunda faculdade. Mal eles sabem todas as lágrimas que relações internacionais fez com que caíssem, quantas noites de insônia por desespero de não fazer o que gostava.

A vida não foi de todo ruim. Com certeza vão dizer que na infância ela ficou boa parte na rua. Não é mentira, mas até na rua ela sofria bullying e ‘discretamente’ apanhava. Só com o tempo, ela pôde perceber o que de fato faziam com ela.

Sobre o futebol, creio que isso deva ser contado separado. Seu primeiro amor foi o Corinthians por dois motivos: Silvio Santos e seu avô materno que morreu quando era muito pequena. O ‘vô Zé’ não falava, pois tinha câncer na garganta e tinha um buraco lá, mas ele apontava para o símbolo do Corinthians e fazia sinal de positivo e quando apontava para os demais times, fazia careta. Ela logo entendeu para quem deveria torcer. Para ajudar seu avô com as palavras, o Silvio Santos foi extremamente útil. Com músicas como ‘doutor eu não me engano, meu coração é corintiano’ entre outras, fixou na cabeça da pequena garota qual deveria ser o seu time. Cresceu amando o Corinthians, tanto que na Copa de 1994 todos insistiram para que ela torcesse pela seleção brasileira e ela negava porque achava que ia deixar o Corinthians triste. Mesmo no futebol, ela pensava nos outros primeiro. 

Ela cresceu e na copa de 1998, percebeu que poderia ter um time e uma seleção, foi quando torceu pelo Brasil pela primeira vez, mas não estava gostando do que via. Ela amava futebol, mas parava de assistir aos jogos do Brasil no segundo tempo. Foi ai que conheceu outras seleções como Alemanha, França, Itália e Croácia. Numa partida da Croácia, ela viu pela primeira vez Davor Suker. Ela ficou encantada, queria entender como uma pessoa era capaz de fazer aquilo. Logo depois, viu o Zinedine Zidane que fazia mais ‘mágica’ ainda do que o croata. Ela não entendia porque diziam que o Brasil era o país do futebol, dos melhores do mundo se, para ela, Suker e Zidane eram infinitamente melhores de todos aqueles que estavam na seleção brasileira. Mas ela torceu pelo Brasil até a final. Quando o Brasil perdeu, ela jurou para si mesma que jamais torceria para essa seleção, porque não era nada como tinham dito a ela. Sentiu-se profundamente enganada. Mas ela não tinha uma seleção, nem se preocupou a ‘escolher’, sabia que mais cedo ou mais tarde sua verdadeira seleção apareceria para ela.

Em 2000, estava na casa de um colega da escola fazendo um trabalho e o pai dele estava assistindo a uma partida do campeonato inglês. Ela, curiosa, foi ver do que se tratava, foi quando viu o Liverpool FC pela primeira vez. Ficou escondida assistindo e quando viu Michael Owen, lembrou se dele da copa de 1998, mas o que a emocionou foi um jogador novo chamado Steven Gerrard, que possuía uma velocidade incrível e tinha marcado um gol. Foi ai que ela comemorou e foi descoberta. O pai do colega a convidou para assistir a partida ao lado dele até terminar e foi o que ela fez. Viu o ‘inédito’ time de vermelho vencer a partida e tinha visto um gol do Steven Gerrard. Não sabia o porquê, mas tinha gostado dele. Decidiu pesquisar mais sobre o time e começou a acompanhar da forma que podia (já que não tinha TV a cabo) o Liverpool. Apaixonou-se pelo futebol do Steven Gerrard e em pouco tempo, passou a considerá-lo seu jogador favorito. 

Cut my veins open and I bleed Liverpool red. I love Liverpool with a burning passion.

Momentos antes da copa de 2002 decidiu torcer pela seleção alemã, não sabia ao certo o motivo e torceu para essa equipe durante a copa. Talvez tenha sido pela cultura do país que misteriosamente ela sempre amou, mas será apenas uma hipótese. E, na derrota diante o Brasil, ela chorou. Pela primeira vez em seu rosto, lágrimas pelo futebol caíram. Foi então que ela descobriu que aquela era a sua seleção. Die Nationalmannschaft, a seleção alemã. E, na mesma copa, ela descobriu onde seu querido Suker, responsável por abrir seus olhos há quatro anos, estava jogando. Num time chamado TSV 1860 München, mais conhecido como Munique 1860. Curiosa, como sempre, começou a assistir a algumas partidas dessa equipe, assim como de todo o campeonato alemão. Paixão no primeiro dia! Mas não assistia direito pelo fato de não ter TV a cabo, mas acompanhava quando possível. Não tinha preconceito, assistia a todas as equipes, sem discriminar ninguém. Ficou muito triste e chegou a chorar quando o 1860 München foi rebaixado. Mas não foi apenas de tristeza que o futebol fez parte de sua vida. Ver o Liverpool campeão da UEFA Champions League, ver a Alemanha ser sede da Copa e jogar bem, ver o primeiro título alemão com os meninos da base sub 19 em 2009 com jogadores do seu 1860 München sendo fundamentais na vitória.




Conseguia muito bem amar seus três times: Corinthians, Liverpool e 1860 München mais a sua seleção alemã. Em 2006, ela conheceu um outro jogador que ela depositou muita fé e deu certo, o Toni Kroos, quem ela carinhosamente apelidou de Meu Menininho. Quando ela conheceu o Toni Kroos, ele ainda estava nas categorias de base do Hansa Rostock e ainda jogava ao lado de seu irmão mais novo, Felix, e era treinado pelo seu pai, Roland. Na metade de 2006, foi contratado pelo Bayern München. Ela não gostou disso, afinal, ele estava indo para o seu maior rival. Mas percebeu que era o melhor para ele, infelizmente. Acompanhou seu trajeto pelas categorias de base da seleção alemã, sua passagem de uma temporada e meia pelo Bayer Leverkusen, sua estreia na seleção profissional, copa do mundo e eurocopa. Cada vez mais ela teve orgulho do “Meu Menininho”, chegando ao ponto de não se importar de ter uma camisa do Bayern München se fosse com o nome e número dele. Se bem que ela preferia infinitamente uma da seleção alemã.
Hallo Toni Kroos ♥ Meu menininho


Sobre seu coração, bom, ela era no fundo romântica, adorava as cortesias antigas que hoje estão extintas. Ela apaixonou-se de verdade por poucas pessoas, cerca de duas ou três. Uma delas, talvez ela nunca se esqueça, porque foi algo forte, algo verdadeiro, foi de todo o seu coração. Talvez ela só tenha gostado dele a vida toda, mas lutou todos os momentos contra esse sentimento. Ela contentou-se apenas com seus abraços, já que nada além disso aconteceu. Talvez seja coisa da imaginação dela, talvez ela não goste de ninguém atualmente, não com toda essa força, e, para não se sentir mal e insensível, acredita que ainda gosta dele.


Lay beside me, tell me what they've done. Speak the words I wanna hear to make my demons run.
 

Ela gostaria de agradecer as poucas pessoas que acreditavam nela de verdade, que viam que ela tinha um futuro. Ela perdeu a esperança em si mesma, mas essas pessoas faziam com que ela tivesse um pouco mais de força, que aguentasse mais tempo. Porém ela nunca mais acreditou que pudesse ser alguém e o que vem dos outros, começa a durar cada vez menos até não fazer mais efeito. Creio que não seja justo colocar nomes, quem foi importante, saberá e muito bem disso.

Dir gehörth mein Herz

A verdade é que ela nunca foi forte para encarar a realidade e precisava de seus diversos mundos e refúgios para suportar isso. Ela tinha um coração muito grande, era educada, compreendia os demais, mas ela nunca conseguiu entender a si mesma. Quem era e o que estava fazendo aqui são coisas que talvez ela nunca descubra. Mas, ela vai lutar até o final, porque a história dela ainda está longe de terminar. Pelo menos, é isso que eu acredito.

When you wish upon a star makes no difference who you are. Anything your heart desires will come to you.
If your heart is in your dream, no request is too extreme, when you wish upon a star as dreamers do.