sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Mãe, agora eu sou um homem de verdade"


Hoje publico um texto que escrevi no dia 25 de junho de 2014 e que havia deixado nos rascunhos do meu email. Procurando informações para o meu tcc, o encontrei lá, largado e esquecido. Eu havia escrito para postar aqui. Bom, antes tarde do que nunca.


Andando pela praia de João Pessoa, ouço um murmurinho distante que se aproxima a cada passo que dou. Após passar algumas barracas, vejo alguns adultos rodeando uma criança que brincava num dos aparelhos de ginásticas que havia sobre a orla. Ela estava na menor das três traves e, após ficar pendurado nela por alguns segundos, a criança solta, olha para uma mulher que julguei ser sua mãe e fala:

"Mãe, vem ver meus músculos, agora eu sou um homem de verdade"

Eu parei minha caminhada e fiquei observando. Não é algo educado parar e olhar pessoas desconhecidas, ainda mais levando em conta minha cara de espanto.

Como esse pode ser um dos valores que esse menino, que não deveria ter mais de oito anos, aprendeu em casa? Homens só são homens de verdade quando têm músculos? Um corpo definido? Sarado? Bombado? Com "tanquinho"?

Me desculpem, mas eu não concordo. Homem de verdade para mim sempre teve outro significado. Ele pode ter o corpo que for, a aparência que for, isso não o fara ser um "homem de verdade".
Pensar assim é aceitar ter para si uma pessoa vazia, uma casca sem nenhum conteúdo. Não estou falando que pessoas assim são cascas vazias. Mas acreditar que essa é a única virtude que um homem DEVE ter é ter mente porca. 

Homem de verdade para mim é outra coisa. Precisa ter caráter, ser amável, gentil, inteligente, prestativo, estar lá quando você precisa e também não está, ser amigo, companheiro, engraçado, esforçado, batalhador, se amar verdadeiramente e aos próximos que considera bastante, saber ouvir críticas construtivas e saber as falar também. São coisas básicas, mas que tornaram-se virtudes no decorrer dos anos. 

Queria conversar com aquele garoto e explicar tudo isso para ele não crescer e tornar-se mais um idiota nesse mundo, mas olhando para os demais adultos ao seu redor, eles acreditavam nisso também.

Dei de ombros e voltei à minha caminhada, pensativa no que tinha visto. Segui o caminho feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por saber que tenho um homem de verdade ao meu lado e triste por saber que aquela criança se tornará apenas mais um idiota.

Nenhum comentário:

Postar um comentário